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sábado, 5 de janeiro de 2013

A SECA DE 1908


Contam os mais velhos que a pior seca que houve no sertão do Ceará foi à de 1908. Uma seca tão terrível que quase todo o gado morreu de fome e de sede, e que muitas pessoas assim também morreram. Foi um ano de desolação, pois a água escassa e o alimento minguado fazia com que pessoas e animais sentissem a mesma dor e o mesmo sofrimento.
Os que tinham recursos mandavam os seus filhos para a capital, e o seu gado para a serra de Baturité. Aqueles que tinham dinheiro em espécie tentavam segurar o gado com rapadura e residiu, mas, era uma luta desigual contra a fome e a desolação, pois sabiam que era somente um paliativo, e que estavam transformando suas economias em poeira, a mesma poeira em que se transformou suas plantações e o pouco gado que tinham.
É neste contexto que narramos este causo, contado a poucos e murmurado por menos pessoas ainda. É a história de uma menina que, em um momento de desespero saiu a vagar pelas estradas da Serra Preta, onde hoje se encontra o Santuário de Nossa Senhora Imaculada Rainha do Sertão.
Era uma criança especial, suas limitações impediam-na de falar normalmente e a sua concepção de vida não passava dos três anos de idade. Saiu a vagar em busca de água nas veredas da Serra Preta, e sem saber como retornar para casa perdeu-se no emaranhado da caatinga seca e retorcida. Desapareceu para o desespero de seus familiares e amigos, que, devido à seca e ao sofrimento, já não tinham mais lágrimas para chorar. Somente os prantos de sua mãe e o chamado dos homens e mulheres por seu nome se ouviam na mata branca disforme por falta de água.  
Anos depois, encontraram-na, morta em uma loca de pedra. Intacta como se somente dormisse, suas roupas estavam empoeiradas pelo tempo, mas nenhuma marca de ferimento ou de violência. Constatou-se que, a pobre menina, deitou-se ali para descansar e morreu com um semblante inocente como ela própria era.

Autor: Davi Moura Nobre
Professor da Rede Estadual de Ensino do Ceará

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