A MOÇA NA JANELA
Davi Moura Nobre
O sol escaldante do nordeste, no centro do nordeste, especificamente no centro do sertão central do interior do Ceará, parece redundância, mas é necessário deixar mais que claro, para que saibamos de onde estamos falando. Numa cidade pitoresca, cercada por pedras e cheia de gente talentosa e mui acolhedora encontramos a Moça na Janela.
Todos os dias, lá está ela, na janela, saia e batom vermelhos, combinando com seus cabelos ruivos, blusa amarelo ouro, um leque, também vermelho, à mão, sempre a espantar o calor escaldante que ali faz, uma flor de papoula no cabelo e brincos grandes de argolas compõem um visual místico, que lembra os povos ciganos, encantando o imaginário de quem a vê observando os transeuntes que correm no vai e vem dos afazeres provincianos, utilizando da correnteza da movimentação do comércio local, durante o dia, e antes do pôr do sol, e também durante, aqueles que se exercitam na praça central, iludidos na esperança de conquistarem um corpo definido, aos padrões da modernidade, ou só tentando manter controlada a pressão arterial.
No entanto, aqui, o foco central é a Moça da Janela. Menina fogosa, cheia de calor no corpo, e nas ideias de revolucionar o mundo que a cerca, ou simplesmente tocar fogo na bagunça armada pela humanidade apressada em ser ninguém sabe o quê. Ela está lá, soberana, imponente na sua janela a observar os amantes, ou candidatos a amantes, que já escolheu há tempos, e que a alguns já seduziu com seu charme voluptuoso, ou como bem disse Assis com seus “olhos oblíquos de cigana dissimulada”. Observa tudo e a todos com uma indiferença charmosa, e gestos de tédio ensaiados, pois sabemos que é só cena,
Por vezes, com uma amiga, divide a janela, mas só a janela, os olhares de cobiça e desejo lançados pelos transeuntes miram-na sem disfarce ou pudores, mas sem mesmo incomodar-se com os comentários ou olhares de julgamento de outrem simplesmente sorri, e quando as carnes tremem de desejo para quem a olhou, também cheio de luxúria, e gargalha como se já estivesse cometendo o pecado, e já sonhando com o próximo amante. Assim é a Moça da Janela, decidida, livre, impetuosa e acima de tudo viva.
Revisão: Joana D'arc Gomes Lobo
Professora da Rede Pública Estadual de Ensino
Ilustração: IA - Chat GPT
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